16.3.10

Discurso de Alice

Não foi o tempo que me parou. Não foi a pressa que me escondeu nem a curiosidade que me enfiou onde estou. Fui eu. Quis tudo isso. De propósito. De propósito?
Onde estou? Quem é você? Vocês... São dois? E o relógio... Onde está? Louco? Só metade. Será... Corações.


E agora, onde fui parar?

9.3.10

O vendedor de sentimentos

Homem - Tem alguem ai?
Coro - Sim. Somos nós. Andantes. Hoje, paramos. Não comemos, não sentimos nem bebemos. Vivemos na eterna fome, na eterna escuridão e nunca nos saciamos. Somos todos loucos. Insanos. Há décadas. E você? Veio juntar-se a nós?
Homem - Andei milhas, quilômetros e cheguei aqui.
Coro - Sim. Sem intrusos. Não aceitamos intrusos.
Coro 1 - Sem estrangeiros...
Coro 2 - Gringos...
Coro 3 - Que seja,
Coro - SEM INTRUSOS!
Homem - Trago comida, bebida. Só não trago sentimentos...
Coro 1 - Não eram vendidos?
Coro 2 - Buscamos alguém para comprá-los...
Coro 3 - Faz tempo.
Homem - Comprar o quê?
Coro - Sentimentos!
Homem - Acham mesmo que os vendo? Que alguém no mundo os venda? Estão loucos, insanos.
Coro 1 - Se somos loucos,
Coro 2 - Insanos,
Coro 1 - Que seja,
Coro 2 - Queremos sentimentos.
Homem - E quanto me oferecem?
Coro - Por o quê?
Homem - Sentimentos.
Coro 1 - Oferecemos, quem sabe, loucura,
Coro 2 - Insanidade,
Coro 1 - Que seja,
Coro - Só queremos sentimentos!
Homem - Loucura, insanidade... Será que é bom? Viver como vocês, inertes, esperando?
Coro 3 - Não somos inertes,
Coro 4 - Esperando...
Coro 3 - Que seja!
Coro 3 - Vivemos numa busca árdua.
Homem - Parados?
Coro - Parados!
Coro 3 - E o que nos diz? Loucura por loucura?
Homem - Me parece apetitoso... Mas...
Coro - ORA, POUPE-NOS!
Coro 4 - Vai querer?
Homem - Querer o quê?
Coro - Loucura!
Coro e homem - Somos nós. Andantes. Hoje, paramos. Não comemos, não sentimos nem bebemos. Vivemos na eterna fome, na eterna escuridão e nunca nos saciamos. Somos todos loucos. Insanos. Há décadas. (para a plateia) E vocês? Vieram juntar-se a nós?

3.3.10

Imaginary

Swallowed up in the sound of my screaming - cannot cease for the fear of silent nights. Oh, how I long for the deep sleep dreaming - the goddess of imaginary light.

1.3.10

Teoria da Morte; Eternidade; Olhar

Sentou-se em sua cadeira como o homem amargurado que sempre foi. Pensava sobre sua vida. Em toda ela. Era perceptível o motivo que havia deixado o homem rabugento daquele jeito. Tinha entre cinquenta e sessenta anos. Era um tanto jovem quanto a numeros. Contudo, em seus olhos, o homem aparentava ter mais de noventa. Um olhar gasto, porém fixo. Raramente piscava os olhos. Era determinado.
Encostou a cabeça na cadeira. Dizem que, ao morrermos, temos direito de vermos toda nossa vida, pontuar o certo e errado. O homem fechou seus olhos - tudo desequilibrava ao fazê-lo, parecia. Pensou em sua vida, não pontuando nada de errado. Ao abrir os olhos, viu um anjo. Era um anjo de olhos iguais ao do velho, apesar de nao aparentarem cansados.
Aos olhos do velho, uma cena maravilhosa que o fez acreditar que era um sonho. Desviou os olhos do anjo. O anjo desviou os olhos do velho. E direcionou seus labios aos labios do velho. Deu-o um beijo suave na boca. Foi assim que disse:
- Morte.
Pegou na mão do velho e o deu para a enternidade.