26.5.10

Peça sobre o enterro de José e Maria

Cena 2 - O enterro de José e Maria

Marcha fúnebre. Entra o elenco. Dois caixões, um pra Maria e outro pra José
Monica entrando - Ai, desculpa. Tô atrasada! Que foi que perdi?
Amoroso - Tamo zelando pelos dois...
Monica - Quem?
Amoroso - José.
Monica - Marido de Maria?
Amoroso - Sim.
Monica - De quem é o outro?
Amoroso - Maria.
Monica - Esposa de José?
Amoroso - Sim.
Monica - De que morreram os dois?
Amoroso - A mulher foi de aborto...
Monica - Mas estava grávida?
Amoroso - Acho que nem ela sabia viu...
Monica - E ele?
Amoroso - Acho que foi doença...
Monica - Da vida?
Amoroso - Pelo jeito era peste mesmo.
Monica - E tava sofrendo o coitado?
Amoroso - Nem sei. Num dia tava bom, no outro tava defunto já.
Monica - Acho que nao sofreu então.
Amoroso - Pelo jeito acho que não... Agora xiu, Monica, que o padre tá entrando.

Peça sobre o enterro de José e Maria

Cena 1 - A morte de José e Maria

Mercado. Entra Maria pedindo ajuda

Maria (aflita) - Socorro, socorro, me ajude, alguém! Ninguem? Ai meu deus... Damião! Bom amigo, me ajude, por favor!
Damião - Mas o que foi dona Maria? Viu o diabo e se assustou com os chifres?
Maria - Damião, me ajuda, urgete.
Damião - Mas desembucha logo se é tão urgente quanto você fala!
Maria - O José! Tá pra morrer! Vim pedir ajuda! Que faço?
Damião - Mas o que houve com seu José?
Maria - Tá sangrando. Muito! No começo achei que era uma ferida! Mas não é! Rápido Damião, tá jorrando!
Damião - Que faço eu dona Maria? Num sou médico! De que serviria?
Maria (ao chão) - Por favor Damião! (Chorando) Por favor! (Com dor) Pelo amor de deus!
Damião - Mas dona Maria? Que posso fazer? Não há nada!
Maria (morrendo) - Ajuda (morre)
Damião - Dona Maria? Jesus, meu São Cristin! OOOh! Amoroso, ajuda aqui! Rápido (aflito) Num morre nao dona Maria! Se levanta!
Amoroso - Já era...
Damião - Ah, Jesus!
Amoroso - Mas o que houve com dona Maria?
Damião - Veio pedir ajuda pro marido e agora ta aí! Ai jesus, meu São Critóvão, que eu faço?
Amoroso - Não há nada mais a fazer, Damião. Vamos avisar a cidade e marcar o enterro...
Damião - É... Acho que é o que nos resta a fazer.

25.5.10

Isabella Venceslau Barbosa.

"saudade é um pouco como fome. só passa quando se come a presença. mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.."

quando a saudade consume, ou mesmo quer ser consumida, nos deparamos, por vezes, com montes. se pudéssemos usar saudades no plural, diríamos que os montes de saudadeses nunca sao completamentes cessados. Quando eles vêm, ficam nos corroendo como puderem. O jeito é conviver com eles ao nosso lado. Fazer deles, amigos, por mais que nao queiram. Isso quer dizer que nunca olhemos para alguem como aquele pedaço que falta por que foi embora. E sim como o pedaço que te completou por certo tempo enquanto estava contigo. É exatamente o que faço. Mas ainda sim, tenho muitas, muitas saudades.

17.5.10

it was late midnight, they were both hot, so what the fuck, they screwed right there, in hell's name.

15.5.10

Mião

Morava em frente ao Mião. Um molecote pervertido que treparia com qualquer um - tanto homens e mulheres - que aparecesse à sua frente. O fedelho morava sozinho, tinha sido expulso de casa por seu pai ao descobrir que o menino tinha doença... Alguma coisa muito obscura naquela epoca de 1930. Tinha lá seus 18 anos - um tanto jovem pra tar morando sozinho -, alto que nem o cão, olhos azuis e cabelos grandes e encaracolados. Era bonito o menino se nao fosse pela gonorreia que o atacava.
Certa vez, enquanto conversava com um vizinho da rua, ouvi gritos vindo da casa na frente. Nao vi ninguem entrar lá... Acho que era Mião sofrendo da doença. Provavelmente sangrando, já que o diabo assolava aquela casa.
Ninguém ousava falar com ele. A não ser pelas putas que comia e os meninos que estuprava. Achamos uma época que era doente. Mas nos acostumamos. De vez em quando, uma arrumadeira ia cuidar do menino. Das primeiras vezes ficou assustada com tanto sangue. Mas se acostumou. Nós todos nos acostumamos. Se não nos fazia mal o garoto, então nao faríamos mal a ele.

Três dia após ouvir da morte de seu pai, Mião sofreu alguma coisa que desconhecíamos e acabou indo pro hospital. Só vimos a ambulância passando. Assilda, vizinha nossa que tinha parente no mesmo hospital, nos disse que o menino gritava tanto que desesperava. De seu pênis saia pus e sangue, dizia Assilda. E pensavam que era fatal o que tinha.
Não foi. Duas semanas depois vimos o garoto andando na rua mais uma vez. Malandro que só traçou uma rapariga no mesmo dia que saiu do hospital. Não tinha jeito.
Deduzíamos quantos filhos tinha.
- Ja comeu a Jandira do 333. Além de umas 20 vadias... Deve ter no mínimo uns 8 filhos.
Se eram meninos ou meninas não sabíamos. Mas oito filhos prum moleque vedio de 18 anos é muito.

Nunca o vimos pegar num livro nem nunca o vimos ir a escola. Devia ser analfabeto. Como ninguém de nós ousava falar com o menino, não sabíamos se falava o português certo.

Mião era o vadio da rua.

5.5.10

?

Tinha uns olhos profundos tais quais precipícios que pensamos em jogar-nos ou um outro qualquer quando queremos o mal alheio (inclui-se 'nós' em alheio, nao esqueçamos). Era exatamente isso que sentia. Mas nao aos olhos propriamente ditos... Ao todo, à fera, aos dentes, ao busto, às costas, ao monstro. Sabia que nao era um monstro físico. Mas podia crer que era um encarnado em corpo de gente. Maior que as trevas podiam suportar, o mandaram ao mundo humano-mortal. Ia morrer logo, uns 40, 50 anos a frente. Mas era tentador. Perigoso. Podia sentir a adrenalina subir. Nunca fizera algo tao surpreendente antes. Seria a primeira vez, se decidisse jogar-? no tal precipício. Era selvagem, avassalador. No fim, foi decidido que sim. E morr?.