20.11.13

Hoje no mercado houve quem me olhasse e não entendesse que tudo aquilo era amor e era paixão, mas que era, acima de tudo, a saudade mais perversa de todas que existem. Aqui no corredor dos sabões em pó jaz a lembrança mais exata do amor que tive e não achava de jeito nenhum o cheiro daquelas camisetas, o exato cheiro da ausência, um por um todos espatifados no chão azul pipocados de gotículas de tristeza.
Pra cá, pro lado das pessoas que morrem a cada a dia a vida anda serena como todo dia é sereno e como toda noite é conturbada. Mas é junto da lua, junto dessa filha da puta da lua que se grudam as mais sórdidas regalias das mentes perturbadas e das almas errantes. Aqui, na noite ébria e chapada que não deixa a gente descansar que o universo parece que diz pra gente: esse é o teu destino lacrado empapelado endereçado com selo e fita crepe. Só que o dia é sereno e o dia é claro. Não entendo. Por que é que Deus fez assim durante o dia te trarei felicidade e à noite te trarei reflexões diabólicas - será que Ele quer nos ver pagar os pecados da humanidade? Carregar a humanidade nas costas carregando a humanidade nas costas? Se a mim fosse concedida uma prerrogativa seria a de que Deus fizesse dos dias angústia e das noites calmaria.