Livro de Lugar Comum
27.1.24
22.5.22
Bom,
que este daqui seja nosso lugar de aconchego, o meu e o seu
ainda que eu e você ocupemos o mesmíssimo espaço-tempo
ainda que eu e você nos odiemos
ainda que eu e você sejamos inimigos brutais de nós mesmos
ainda que eu e você sejamos quase a mesma coisa.
Bom,
que este daqui seja o nosso lugar de descanso,
aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui,
aqui,
aqui,
aqui, aqui
qui
qui
espero que nós, eu e você
encontremos aqui nosso lugar de refúgio, aqui mesmo
é um alfabeto
significados, códigos,
porque esse eu e você entendemos e tá bom, o português é fascista, eu sei, você sabe
mas é só aqui que eu e você conseguimos pelo menos nos encontrar
e olha o que tem nos custado nos últimos dias
meses
anos
horas
segundos
nossa garganta, a minha e a sua, consegue aguentar a nossa própria verborragia desenfreada mas será
será que a nossa cabeça
a minha e a sua
consegue sequer supor esse fluxo insano e demoníaco de pensamentos às vezes suicidas covardes?!
por isso que eu e você nos encontramos aqui
nesse espaço minúsculo da nossa vida-tempo
aqui, onde nós, eu e você, pelo menos conseguimos dizer
alguma coisa
alguma.
somos fascistas, absolutamente fascistas, porque eu só te compreendo quando você diz
quando você diz palavras
em português.
3.3.22
Eu estou aqui faz mais de 10 anos.
Acho que faz mais de dez anos que eu descobri amor e que verso brega, né não. Mas faz.
E acho que faz mais de dez anos que eu entendi que meu amor era de viadinho. Sim, eu sou um viadinho desses que a gente encontra em qualquer esquina da Augusta.
Mas faz mais de dez anos que ninguém descobre em mim amor. E talvez essa postagem não tenha nada de poético, afinal, todo dia eu sinto que a terapia tirou de mim o sufoco que me fazia escrever toda hora. E agora, quando a terapia falha, eu continuo sufocado - mas não consigo mais escrever.
Toda vez eu penso que eu deveria escrever mais sobre amor - sobre os que eu nunca tive, porque eu nunca tive nada. Mas não consigo, me sinto otário.
Eu queria, bem que eu queria encontrar amor um dia. Eu achei que tinha sido cinco dias atrás no Scruff. Doce ilusão.
21.4.21
7.7.20
E um olhar assim mais ou menos vazio,
mas que no mesmo tempo que olha pra esse nada esbranquiçado
vê, imagina e contempla uma guerra, uma explosão atômica que atinge metros e metros de terra
Terra
outra hora fértil
mas que neste exato minuto está assolada pela maior crise de escassez que uma vida humana já viu
Eu queria saber escrever
eu queria saber criar essas fantasias malucas que muita gente cria
mas eu queria criar pra mim primeiro - talvez só pra mim mesmo - ninguém precisa ver as frutas que eu planto não
Quem sabe só pra ter essa sensação ludibriada de bater o dedo no teclado - ou a caneta no papel, para os poéticos saudosistas - e sair das terras podres que às vezes nos tornamos.
7.6.20
voltei de ônibus, tão rápido. Parecia que o motorista tinha esquecido o pé no acelerador.
Quando o ônibus passou na frente do cemitério da lapa, eu coloquei a mão pra fora.
Fui largando semente por semente. Na calçada do cemitério.
Não era homenagem pra ninguém que morreu. Todos que conheço estão enterrados no cemitério da Bela Vista.
Minha roseira era um plano simplesmente ambicioso.
Imagina, eu? Cuidando de rosa?
Talvez alguém encontre minhas rosas fortes e saudáveis na frente do cemitério. Dona Morte, La Llorona, algum Fantasma.
E talvez alguém possa me dizer: olha só, bastou comprar a semente e jogar em qualquer lugar, que uma roseira cresceu. Você tem um dom. Você tem um talento. Você tem dedo verde.
Quem sabe.
24.2.19
25.1.19
Reli, também, pela primeira vez, as coisas que escrevi.
E todas elas parecem um prelúdio para ti, que é o da vez,
como pareceram um prelúdio para os que vieram antes de ti, mas que me ocuparam tanto quanto.
eu não te aguento mais. eu quero te esquecer, assim como eu esqueci de todos os outros.
e quero te escrever como se fosse alguém muito distante, do meu passado, que me agoniou mas que hoje eu até consigo sentir saudades.
não apareça, não me chame, não fale de mim...
que daí eu faço a minha parte de nunca mais querer te ver na vida.
7.1.19
O cavalo de madeira era você, mas fui eu:
Gregos e Troianos, golpeando uns aos outros, mas era eu, Grego e Troiano.
Talvez mito melhor para ser usado aqui seja o de Pandora, mas não, não vem ao caso,
afinal, Pandora não é Ulisses.
porque eu fiquei em Troia.
Hécuba, me lamentei.
mas eu também saí de lá e enfrentei aventuras terríveis e todos os monstros eram você, quando resolvia dar as caras.
a diferença é que eu não sou heroi e nem guerreiro: virtuoso, corajoso, forte, viril.
eu sou tão frágil quanto uma gaivota,
mas não quero misturar muito as coisas, afinal, nem escrever eu sei direito.
só que tenho certeza que Ulisses voltou pra casa e ah, me espera,
eu vou voltar.
18.12.18
e, não vou mentir, eu já tinha descoberto faz anos.
só que foi no meio dessa confusão toda que eu entendi meu tempo, minha capacidade, meus desejos
e eu nunca fiquei tão assustado e com tanto medo de nada que não fosse de mim mesmo e dos meus espasmos
eu me contei mil e uma mentiras e eu acreditei em todas elas e quando eu percebi eu espumei de raiva, eu bati a minha cabeça na parede, eu quebrei a minha escrivaninha
quem meteu os pés pelas mãos fui eu - e eu sei disso. e agora eu me vejo obrigado a pagar o preço, sete ou oito dígitos.
e eu sei que as coisas não acabam por aqui. este é só o início do maior countdown que eu já vi na vida.