7.7.20

Zero propósitos
E um olhar assim mais ou menos vazio,
mas que no mesmo tempo que olha pra esse nada esbranquiçado
vê, imagina e contempla uma guerra, uma explosão atômica que atinge metros e metros de terra

Terra
outra hora fértil
mas que neste exato minuto está assolada pela maior crise de escassez que uma vida humana já viu

Eu queria saber escrever
eu queria saber criar essas fantasias malucas que muita gente cria
mas eu queria criar pra mim primeiro - talvez só pra mim mesmo - ninguém precisa ver as frutas que eu planto não

Quem sabe só pra ter essa sensação ludibriada de bater o dedo no teclado - ou a caneta no papel, para os poéticos saudosistas - e sair das terras podres que às vezes nos tornamos.

7.6.20

Saí de casa tão cedo, atravessei a cidade pra comprar umas poucas sementes de roseira;

voltei de ônibus, tão rápido. Parecia que o motorista tinha esquecido o pé no acelerador.

Quando o ônibus passou na frente do cemitério da lapa, eu coloquei a mão pra fora.

Fui largando semente por semente. Na calçada do cemitério.

Não era homenagem pra ninguém que morreu. Todos que conheço estão enterrados no cemitério da Bela Vista.

Minha roseira era um plano simplesmente ambicioso.

Imagina, eu? Cuidando de rosa?

Talvez alguém encontre minhas rosas fortes e saudáveis na frente do cemitério. Dona Morte, La Llorona, algum Fantasma.

E talvez alguém possa me dizer: olha só, bastou comprar a semente e jogar em qualquer lugar, que uma roseira cresceu. Você tem um dom. Você tem um talento. Você tem dedo verde.

Quem sabe.