21.5.12

A eternidade/Solstício

Um bolo, do disforme ao conforme - farinha, leite, fermento. E café, que o amargo e o terrível tocaram-na saborosamente. Ou uma massa homogênea, sem significado ou significância - ânsia de um refluxo. O vômito. Assim sentia-se Ana, a contradição convicta de mulher forte, e que muralha era a mulher! E era enorme e era incerta e vivia embebida na era de incertezas. E nem a psicanálise, nem o mais sábio dos Merlins pôde, de fato, conhecê-la. Um dia, Joana, seu eu-alma, seu lupus, em noite de lua minguante ascendeu à eternidade e abraçou-se à Lua feito um par. E a noite era fria, era fria e era solstício. Mas para a Ana terrena, a noite foi ainda mais longa - foi eterna! Não havia morrido, tampouco definhava - apenas trocara Joana pelo antidepressivo, mas como, Ah!, como estancar a crise hemorrágica com uma única pílula?! Não era possível e aí, hoje e para sempre - jorra Ana(,) a eternidade.

5.5.12

Noite do resguardo

Não sou assim - na verdade, apenas não sou; moldo-me em virtude das tuas volúpias e dos teus desejos: sei unicamente que quero ser um deles. Não tenho tripas nem entranhas - não tenho vontades nem obrigações. Não tenho coração nem veias - meu amor é teu. Tenho a ti, só a ti, ser ínfimo, infortunado e inferior - incontrolável. Olha! Olha pra mim! Sou teu - todo teu; vê!; fiz tudo isso pra que amasse só a mim, me refiz de acordo com as tuas regras. Vai valer a pena, vai valer a pena... - eu pensava - ...e se não valer a pena e eu tiver me desgastado, assim, à toa? Não importa! Importa que me faz bem tudo aqui que é em teu prol - mesmo que o frio da barriga suba na garganta e me troque da lucidez à insanidade. Pelo menos, saberei que era doença de você. Infecção - que ataca os ossos e a pele. Os ossos, pra te oferecer o cálcio duro do coração. A pele, porque, por ora, o frio é gritante. Mas não pensa que é meu parasita - claro que não! Ao menos, tenho a ti... tenho a ti... a ti...

1.5.12

Estas são as marcas de O VERDADEIRO AMOR, Juliana!

Estas são as marcas de O VERDADEIRO AMOR, Juliana!, esta merda com a qual o ser humano teima em se meter. É tudo ilusão, Juliana, tudo ilusão, afinal, quem é que tem a liberdade de amar? de pensar? de escolher? Ninguém, ninguém tem, deveria dizer. Mas eu não tenho medo de estufar o peito, estufar o peito e dizer que EU SOU FRACO, EU TE AMO. pronto. Sou fraco pois te amo, sou fraco portanto te amo, te amo portanto sou fraco. Franco talvez seria omitir os fatos, mas que eu posso fazer, Juliana, se eu não me permito calar a porra da boca e sentar a porra da bunda? E não me venha com ladainhas me dizer que eu não deveria me cortar desse jeito - é só que eu peguei a navalha e eu era a coisa mais perto que eu encontrei e... Além disso ninguem mais tem culpa de eu ser assim, pra que descontar nos outros? Os outros... Os outros é que se fodam, Juliana, eu to preocupado em salvar o meu cu e encontrar a minha paz! Quando eu conseguir plenitudear o meu amor, aí sim, que eu vou ter paz "e a vida vai ser tranquila, feliz e harmoniosa". E os outros também conseguem, no céu, nos umbrais, no campo energético, seja onde for, cada alma penada tem o seu espacinho de paz e de pendurar os cabides. A bosta, Juliana, é que todo mundo quer ter paz aqui e agora e não estou negando que também não queira - eu quero e quero muito. Mas se chama mesmo paz escolher os amores a dedo, Juliana?! Tipo, não quero preto porque é fedido, não quero gordo porque é feio, não quero homem porque quero mulher, é isso que a gente chama de paz?! [Quero dizer, estou contando apenas aqueles que ainda acreditam que se pode amar, porque se não, vixe...] Eu retiro dos meus padrõezinhos toda a "ralé" e fico com o que? Com muito pouco ou quase nada, só se for, Juliana, não é possível! Mas sabe, eu quero que minha viagem até o céu chegue logo, também. Imagina só como deve ser, Ju, o ser humano ter que deixar de tocar - tudo aquilo que ele aprendeu e construiu a humanidade inteira sendo destruído por um simples acidente de carro! Imagina, Ju, imagina! Imagina como deve ser subir, sublimar, e mandar um belo foda-se pra tudo o que aconteceu! E olhar de cima, Ju, olhar de cima! E ter, conseguir enfim alcançar a paz, imagina como deve ser! E poder sem remorso perdoar a terra, perdoar os pecados, perdoar os homens! Imagina, Ju...! Ju, quero morrer. Quero morrer logo. Mas, antes, quero viver. E quero viver logo!