8.1.10

- Erm... Desculpe senhor, mas eu tenho um problema.
- E qual seria? - disse algum tipo de oficial a pobre senhorita, num tom impossivelmente mais ríspido.
- Eu trouxe duas malas no ônibus... E aparentemente só encontrei uma.
- Uhm... Senhorita, não há mais nenhuma mala dentro do ônibus. Você deve ter deixado em casa.
- Não. Isto... Isto seria impossível. Eu preciso daquela mala aqui. Você não entende. Eu tenho certeza que a trouxe.
- Senhorita, não há nada que eu possa fazer, desculpe.
- Escute... Você não compreende. Eu trouxe. Tenho a maior certeza do mundo. Como você garante que... Que o porta-malas abriu e minha mala ficou para trás?
- Se o porta-malas estivesse aberto, mais malas teriam caído. Com licença, senhora, você está ocupando meu tempo.
- Senhor, vocês são responsáveis pelos pertences dos passageiros enquanto eles estão no poder de vocês...
- Senhora, não somos responsáveis por bagagem que nunca, se quer, entraram no veículo! - disse o oficial gritando.
- Senhor, por favor, me ajude! Eu preciso daquela mala.
- E o que há de tão importante lá?
- Minhas lembraças, meu filho falecido, meu marido assassinado, restos da minha casa... Minha vida! Senhor, por favor, eu lhe peço! Me ajude, me ajude, me ajude... - implorou a senhorita caindo em prantos, soluçando. Aos olhares dos de fora, diriam que ela estava literalmente morrendo de chorar.
- Senhorita, você está louca.
- Escuta aqui, - apontou o dedo e agora começara a ameaçar o policial - minha vida já foi muito desgraçada para um policialzinho de uma rodoviaria mediocre tirar tudo o que eu tenho de boas lembranças dela! Me deixem passar. Parem esse ônibus! - a mulher agora tentava ultrapassar o portão da plataforma, para poder recuperar sua mala.
O policial, comovido, correu atrás da mulher. Agarrou-a com tanta força, jogou-a no chão, e com um suspiro maléfico, pos-se a espancar a mulher. E com tanta força o fez, que esta começou a sangrar em questão de segundos. Depois de muito espancar, deixou a pobre mulher gemendo no chão da rodoviária, como se fosse um cão preseter a morrer. Quem passava pela mulher pouco se importava com todo aquele sangue no chão ou com os gemidos da pobre moça. Apenas passava reto, apressado.
Após alguns segundos no chão, a mulher, com suas últimas forças, gritou. Soltou um grito de desespero, de dor. Foi quando começou a chorar. E sem mais, morreu naquele chão da rodoviária. Ninguém se dignou a tirar o corpo de lá. Nem se dignará.

Nenhum comentário:

Postar um comentário