30.9.09

Conversas entre um homem e um comprimido

Chegou em casa transtornado, abriu a porta e o barulho ecoou. Sentiu-se muito sozinho o pobre homem que não encontrou ninguém em casa, nenhum braço materno, nenhum ombro amigo, nenhuma mão de amado. Achou que não tinha nada daquilo. Desabou num pranto sem fim (ou que pensava que nunca teria fim) por não acreditar mais em seu amor. Molhou o travesseiro o quanto seus olhos conseguiram até arderem e ficarem tão inchados que diria que levara um soco.

Sentou-se na cama. Pensou por alguns minutos. Desceu. Foi até a cozinha. Sentou-se numa cadeira na frente de uma gaveta, e abriu esta última. Pegou um comprimido, creio que daqueles que diminuem a pressão arterial, e colocou-o na sua frente. Duvidou se devia tomá-l0, se era realmente necessário. Foi assim que disse:

- Você pode mudar minha vida, sabia? - como se falasse com um humano. E completou - Um, dois, vários de vocês mudarão minha vida pra sempre.

Não ouviu respostas, não ouviu conselhos. Afinal, ele não tinha quem os dar, certo? E, mesmo com a dúvida posta, fez o que era certo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário