15.5.10

Mião

Morava em frente ao Mião. Um molecote pervertido que treparia com qualquer um - tanto homens e mulheres - que aparecesse à sua frente. O fedelho morava sozinho, tinha sido expulso de casa por seu pai ao descobrir que o menino tinha doença... Alguma coisa muito obscura naquela epoca de 1930. Tinha lá seus 18 anos - um tanto jovem pra tar morando sozinho -, alto que nem o cão, olhos azuis e cabelos grandes e encaracolados. Era bonito o menino se nao fosse pela gonorreia que o atacava.
Certa vez, enquanto conversava com um vizinho da rua, ouvi gritos vindo da casa na frente. Nao vi ninguem entrar lá... Acho que era Mião sofrendo da doença. Provavelmente sangrando, já que o diabo assolava aquela casa.
Ninguém ousava falar com ele. A não ser pelas putas que comia e os meninos que estuprava. Achamos uma época que era doente. Mas nos acostumamos. De vez em quando, uma arrumadeira ia cuidar do menino. Das primeiras vezes ficou assustada com tanto sangue. Mas se acostumou. Nós todos nos acostumamos. Se não nos fazia mal o garoto, então nao faríamos mal a ele.

Três dia após ouvir da morte de seu pai, Mião sofreu alguma coisa que desconhecíamos e acabou indo pro hospital. Só vimos a ambulância passando. Assilda, vizinha nossa que tinha parente no mesmo hospital, nos disse que o menino gritava tanto que desesperava. De seu pênis saia pus e sangue, dizia Assilda. E pensavam que era fatal o que tinha.
Não foi. Duas semanas depois vimos o garoto andando na rua mais uma vez. Malandro que só traçou uma rapariga no mesmo dia que saiu do hospital. Não tinha jeito.
Deduzíamos quantos filhos tinha.
- Ja comeu a Jandira do 333. Além de umas 20 vadias... Deve ter no mínimo uns 8 filhos.
Se eram meninos ou meninas não sabíamos. Mas oito filhos prum moleque vedio de 18 anos é muito.

Nunca o vimos pegar num livro nem nunca o vimos ir a escola. Devia ser analfabeto. Como ninguém de nós ousava falar com o menino, não sabíamos se falava o português certo.

Mião era o vadio da rua.

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