5.7.11

Conversa

É dificil olhar para mim, eu sei. Mas tente um pouco mais. Olhe bem aqui, nos meus olhos. O que vê? Nada, não é mesmo? Vou lhe contar uma história sobre este par... Eu os fiz de escravos. Toda vez que sentia em mim algo diferente, amarrava estes mesmos olhos, que agora são nada, no pau de arara e os chicoteava até que sangrassem hemorragicamente. Deles, saiam lâminas afiadíssimas, que eram resultado daquilo que tinha dentro de mim. As lâminas nunca, no entanto, eram o suficiente para me livrar do meu interior em guerra. Fui perdendo meus olhos... E, enfim, os libertei e os joguei à escuridão, para o merecido descanso.

Chegue mais perto, não tenha medo. Olha esta ruga, bem aqui... Não é uma simples ruga. É o resultado de uma erosão profunda. Quando deixamos a alma exposta às dores por muito tempo, começamos a perceber o desgaste dela em nós mesmos. No lugar desta ruga, costumava haver paz. Paz... Acho uma palavra bonita. Todos nós buscamos incessantemente estar em paz, não é mesmo? Ela é dificil de achar. Ainda a busco. Parece-me que nunca a encontrarei, contudo.

Por que já vai? Não te agrada a conversa? Fica mais. Ah, se insiste tanto em ir, vá... Pode ir, ficarei bem. Adeus!

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