11.7.11

O Fado de Antoinette

(A ser lido pausadamente, talvez, ao som de "Sur Le Fil" http://www.youtube.com/watch?v=MjwVyITV0xU)

Muito já me vi chorar e muito já me vi enlouquecer. Esses dias, decidi sair de casa, de camiseta e cueca, e sentar na calçada. Fazia um puta de um frio e eu tremia demais - afinal, é inverno. Meu plano de observar os seres humanos da rua falhou, já que ninguém passava. Não desisti, no entanto, da calçada. Acho que, por um acesso de loucura, passei a conversar com ela... Ela me dizia coisas sobre as pessoas que já haviam pisado nela. Fiquei surpreso, também - não sabia que calçadas pensavam. Pensam sim. São muito inteligentes e observadoras. Ela estava bastante erodida e mal conseguia falar. Na verdade, ofegava ao invés de proferir palavras. Tinha um nome um tanto quanto incomum...

Perguntaram-me o que posso tirar d'uma conversa com uma calçada. Disse-lhes que todos nós somos insanos de alguma forma. A calçada disse-me estar fadada a aguentar ser pisada para o resto da vida. Disse-lhe que também tinha um fado. Estava fadado a não amar para sempre. Ela ficou espantada. Disse que todo o ser humano tinha o mesmo destino. Ela cortou-me aí e falou que não queria discutir conceitos como humanidade... Restringi-me, então, a falar apenas sobre nós dois.

Ofereci algo para beber. Fui buscar alguma coisa quente para nós. Coloquei uma calça e uma blusa nesse meio tempo. Voltamos a nos falar e eu continuei minha história sobre minhas desventuras. Contei da incapacidade de amar. Continuava espantada e não entendeu uma só palavra do que disse. É... Desdar os nós da alma às vezes é difícil até quando estamos loucos. Por ora, achei-me incapacitado de esconder o pranto. Chorei sem dó, afinal, não vi problema algum em chorar frente à minha própria loucura. Ao enxugar meus olhos, não mais enxergava a calçada... Não pudemos conversar sobre o fado dela. Acho que a encontrarei num próximo dia que estiver louco e prantoso...

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