19.2.12

Quarta-feira de cinzas

Me lembro dos maços de cigarros fumados uns atras dos outros. E dos tragos de cachaça consumidos em milésimos de segundo. E da maconha puxada sem o intervalo entre um baseado e outro. E dos gramas de cocaína fungados como se o amanhã inexistisse. E da multidão suja levada, em massa, pelo samba frio e incoerente. E das caras, e dos peitos e dos pés grotescos dos homens grotescos. E da avenida imunda e cheirando a gozo de macho-alfa. E do meu cadáver jogado no asfalto - de nariz estourado e pulmão quase inerte. E dos súbitos de esforços pelos quais não consegui, nem por um segundo, manter-me de pé. E da lágrima seca que tentava rolar pelo meu corpo. E do cansaço. E da fadiga. E do medo. E da morte. E, pois, não adiantara de nada seguir o bloco - ainda assim voltei a ser tudo o que me afligia antes, mas com menos tempo de sê-lo.

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